Veículos elétricos: o que se deve levar em consideração antes de adquirir um
A oferta de veículos elétricos vem crescendo, já que as principais montadoras estão investindo fortemente nesses modelos e até fomentando a infraestrutura para o carregamento. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico, no Brasil, a frota de elétricos e híbridos é de 16 mil, mas a projeção é que o mercado cresça de 300% a 500% nos próximos 5 anos. E como se trata de uma tecnologia nova, quem deseja adquirir um veículo desse tipo tem muitas dúvidas em relação ao que se deve atentar antes. Confira os principais pontos:
O veículo elétrico atende minhas necessidades?
Antes de tudo, é importante pensar no seu estilo de vida e na sua necessidade de uso, além de aspectos como espaço (a necessidade é diferente dependendo da quantidade de pessoas que serão transportadas) e se será usado para viagens longas ou viagens curtas aos fins de semana, ou apenas no meio urbano para deslocamento ao trabalho, por exemplo. Há também o aspecto do custo-benefício, além de conforto e versatilidade.
A autonomia é suficiente?
A distância que um carro elétrico consegue percorrer antes que a energia armazenada na bateria acabe e seja preciso recarregá-lo é um dos principais pontos a serem considerados na compra. Atualmente, a autonomia é maior se comparada ao passado. Mesmo assim é importante conhecer seus hábitos de uso e ter certeza de que a autonomia será suficiente pra sua necessidade.
No caso de uso urbano em que a distância percorrida é geralmente menor que a autonomia, o uso do carro elétrico se torna funcional, já que é mais fácil encontrar estabelecimentos como supermercados, shoppings e estacionamentos com pontos de recarga.
No caso de viagens que ultrapassem a autonomia, é mais complicado, pois embora a infraestrutura para abastecimento dos veículos elétricos esteja aumentando, ela ainda é pouco abrangente no país.
Sobre isso, Raphael Pintão, sócio-diretor da NeoCharge, empresa pioneira em carregadores e infraestrutura para veículos elétricos, afirma que este cenário está mudando, já que algumas estradas passaram a oferecer esse tipo de solução. São iniciativas que visam estimular o uso dos veículos elétricos e contribuir com o crescimento do mercado, como a BR-277 no Paraná (que corta o Estado de leste a oeste) e a rodovia Presidente Dutra, que liga as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. “No caso das estradas, o movimento tem sido um pouco mais lento, mas já está acontecendo. Já os pontos comerciais têm investido em oferecer soluções em carregamento de veículos elétricos, à medida que tem observado o crescimento dessa tendência. O uso residencial também cresce, principalmente em casas e condomínios, que estão cada vez mais interessados em oferecer a tecnologia aos moradores e ter este diferencial”, completa.
Como recarregar meu carro elétrico?
A primeira opção é o carregamento feito na própria residência. A maioria dos veículos vem com carregador portátil de fábrica incluso, que pode ser recarregado e conectado a uma tomada de 3 pinos com diâmetro maior (dessas que se usa para correntes elétricas mais fortes), sem adaptações na rede elétrica. Mas estes carregadores têm a desvantagem de serem mais lentos, levando muitas horas pra completar a carga e sendo recomendados apenas em casos emergenciais. Por isso, dependendo do uso, é necessário investir noutras soluções, como os carregadores rápidos, que são mais robustos e têm proteções que evitam danos na rede elétrica.
Já para moradores de condomínios, há a possibilidade de ter uma estação compartilhada, um espaço exclusivamente pra recarregar o carro, no qual a cobrança é feita diretamente para o proprietário. Segundo Raphael, os condomínios mais antigos estão buscando se adaptar à tecnologia e os novos empreendimentos já incluem pontos pra recarga de veículo elétrico desde o desenvolvimento do projeto.
Outra opção para o carregamento são as estações de recarga privadas. Está cada vez mais comum encontrar carregadores disponíveis em shoppings, supermercados, restaurantes e etc. Embora já exista uma regulamentação que permite a comercialização da energia para este fim, atualmente, a maior parte desses estabelecimentos oferece a recarga sem nenhum custo. Dessa forma é possível recarregar o carro enquanto se usa os serviços do estabelecimento. Além disso, há os pontos públicos, que devem ser instalados nas ruas por todo país, ao longo dos próximos anos.
Pra facilitar a vida dos usuários, existem aplicativos que indicam os locais onde há postos de recarga. O próprio Google Maps tem essa funcionalidade e mostra inclusive o tipo de plug disponível.
Pra ficar mais econômico e sustentável, há a opção de usar energia solar fotovoltaica como fonte de energia pro carregamento do veículo. “Este tipo de solução vem ganhando maior número de adeptos, pois a cadeia de produção e consumo de energia se torna toda limpa e sustentável”, diz Raphael.
Capacidade de recarga e escolha do carregador
Cada carro possui uma capacidade de recarga e isso influencia no tempo, que geralmente varia entre uma e 12 horas. Os carregadores também têm uma capacidade máxima, variando entre 3,7kW e 22kW em corrente alternada. Segundo Raphael, um carro com a potência de 22kW usando um carregador de 22kW carregará em 22kW no total. Num cenário que o veículo ou carregador tenha potência de 7kW, a recarga será limitada pela menor potência – neste caso, recarregará em 7kW.
Já em relação ao tempo de recarga, “um veículo com capacidade da bateria de 40 kWh, por exemplo, carregando em 22kW, levará cerca de duas horas pra completar a bateria. Na situação de carregar em 7kW, o tempo aumenta para quase 6 horas. Esse não é um fator determinante, já que o carro poderia ficar conectado cerca de 12 horas todos os dias ao longo da noite e no outro dia a bateria estará totalmente carregada”, explica Raphael.
Existem também carregadores de carga rápida, mais encontrados em rodovias. Eles fazem a recarga em corrente contínua e levam menos tempo que os carregadores residenciais e comerciais: cerca de apenas 30 minutos, dependendo da capacidade da bateria. “Sendo assim, antes de adquirir um carregador de veículo elétrico, recomenda-se consultar o fabricante pra saber qual a potência máxima de carregamento. Assim você consegue escolher o carregador que melhor se adequa ao seu veículo”, diz Raphael.
Preço
Os veículos elétricos são uma ótima alternativa ambientalmente, mas ainda são caros se comparados a carros do mesmo tamanho com motor a combustão. Mas o sócio-diretor da NeoCharge enfatiza que, mesmo que estes carros tenham um alto valor de mercado, manter um veículo elétrico já é economicamente mais barato que um carro a combustão. “O motor elétrico possui menor quantidade de peças móveis, se comparado a um motor a combustão. E isso é mais vantajoso no que se refere à manutenção do motor, troca de óleo etc. O preço pra ‘encher o tanque’ do carro elétrico é mais barato, já que o valor da energia elétrica é menor que o combustível fóssil. E vale lembrar que existem incentivos fiscais para quem tem um veículo elétrico. Além disso, com toda a inovação, a tendência é que os preços sigam caindo e que este movimento aconteça alinhado com o aumento da infraestrutura, até mesmo com o aumento da concorrência”.
Capacidade da bateria
A capacidade da bateria está ligada às necessidades e ao tipo de hábito no uso. Por exemplo: comparando a autonomia de um SUV a um compacto, ambos com a mesma capacidade de armazenamento de energia, a bateria do SUV acabaria mais rápido. Isso por conta de fatores como potência do motor elétrico, velocidade, peso do carro e recursos elétricos que ele usa (multimídia, ar condicionado, aquecedor etc). Ou seja, dependendo do tipo de veículo, da capacidade que a bateria tem e das funcionalidades que ele possui, o consumo da energia poderá ser maior do que se espera. E isso influencia em sua autonomia.
O sócio-diretor da NeoCharge também atenta para o tipo de carregador que será usado, pois dependendo do tipo, o tempo pra recarregar a bateria pode ser maior ou menor. O carregador portátil, por exemplo, pode levar até 24 horas pra carregar um veículo elétrico (por isso recomenda-se só pra usos ‘emergenciais’), enquanto que carregadores específicos de alta potência podem realizar a recarga em poucas horas. “O Renault Zoe possui bateria com capacidade de 41 kWh e uma autonomia para rodar até 255 quilômetros. Com um carregador veicular de 11kW, seriam necessárias cerca de 4 horas pra carregar totalmente a bateria”, exemplifica Raphael.
Qual tipo de plug de tomada o carro possui?
Existem alguns tipos de plugues de tomada para carregar o veículo elétrico. Por exemplo: a Tesla possui um padrão específico para os seus carros. As montadoras japonesas e americanas usam o padrão de tomada Tipo 1, enquanto que as montadoras europeias usam o Tipo 2. A questão é que elas têm diferentes padrões de conectores e protocolos de comunicação. Isso significa que um carro elétrico com a tomada padrão Tipo 1 não conseguirá ser recarregado com a tomada padrão Tipo 2.
Algumas estações de recarga têm cabo e padrão fixos, enquanto que outras permitem usar um cabo com o tipo de tomada do usuário, como um adaptador. No Brasil, o plug de tomada mais comum é o Tipo 2, mas ainda há muitos carros sendo vendidos com outros. A dica do sócio-diretor da NeoCharge pra evitar transtornos quanto ao padrão de plugue que estará disponível é ter um adaptador, solução simples que garante recarga em qualquer local.