Saúde é a grande responsável por aumento de acidentes de trânsito no Brasil
Até julho de 2022, cerca de 13 mil sinistros de trânsito registrados em rodovias brasileiras tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à condição de saúde dos motoristas. Esse volume de colisões, capotamentos e outros desastres deixou um saldo de 13.744 feridos e 881 mortos – um aumento de quase 20% em relação ao mesmo período de 2021. A conclusão é da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet0, que na Semana Nacional do Trânsito chama a atenção para a importância da prevenção à saúde na redução de acidentes automotivos. Com base na catalogação de dados da Polícia Rodoviária Federal, médicos de tráfego reuniram os acidentes em categorias mais recorrentes, entre elas falta de atenção, mal súbito, sonolência e ingestão de álcool e de substâncias psicoativas.
“As condições de saúde dos condutores são extremamente relevantes para a segurança do trânsito. Observamos que um terço dos mortos e feridos nas rodovias monitoradas pela Polícia Rodoviária Federal, somente nos primeiros sete meses de 2022, podem ter sido acometidos por problemas como déficit de atenção (permanente ou circunstancial), deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio”, diz Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet. Para ele, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado no âmbito de ações e políticas públicas destinadas à redução dos indicadores e reforça o estímulo à realização periódica do Exame de Aptidão Física e Mental pelo motorista, decisivo pra redução da mortalidade no trânsito. Além de campanhas permanentes de conscientização e fiscalização, para além da Semana Nacional do Trânsito, Meira Júnior defende a prevenção adotada pelos médicos do tráfego.
SAÚDE E DIREÇÃO – A falta de reação ou resposta tardia ou ineficiente ao volante foram as principais causas de mortes e ferimentos. Cerca de 5.100 pessoas ficaram feridas e outras 314 morreram em 2022 em razão da falta de resposta imediata às circunstâncias que comprometeram a direção. Outros 4.200 feridos e 274 óbitos nas rodovias foram motivados pela total ausência de reação do motorista. “Diversos fatores podem comprometer o tempo de reação, julgamento, visão e dificuldades no processo da informação e memória de curto prazo do condutor”, alerta Flávio Adura, diretor científico da Abramet. Segundo ele, através de orientações e aconselhamentos, o médico do tráfego pode auxiliar na identificação de motoristas com risco de se envolverem em acidentes de trânsito e auxiliá-los a dirigir com segurança. “É muito importante afastar da direção de um veículo que tem problemas de saúde que interfiram na direção veicular segura”, acrescentou.
A ingestão de bebida alcoólica é a terceira causa mais frequente, no que diz respeito à saúde de quem conduz. Ela deixou 2.233 feridos e matou 111 pessoas entre janeiro e julho de 2022. “Sabe-se que o álcool compromete o reflexo dos motoristas. Se fosse só isso, já não seria pouco, mas também reduz a habilidade de controlar o veículo e a capacidade de percepção da velocidade e dos obstáculos, além de diminuir a visão periférica, prejudicar a capacidade de dividir a atenção e aumentar o tempo de reação”, alerta Flavio Adura.
Outra condição de saúde que mais aparece no levantamento é o sono. Quando insuficiente, é causa frequente e muito importante da sonolência diurna, sendo capaz de causar acidentes graves. Este fator motivou 124 mortes e deixou 1.758 feridos no período analisado. Completam o trabalho o chamado mal súbito (perda de consciência devida mais frequentemente a doenças cardiológicas como infarto e arritmias) e doenças neurológicas tipo AVC e convulsões, com um total de 390 mortos e feridos.
FATOR HUMANO – As informações contemplam só os sinistros registrados em estradas e rodovias sob supervisão da PRF. Não foram contabilizados transtornos em colisões em pistas, ruas e avenidas dos centros urbanos. Com isso, avalia o presidente da Abramet, “o quadro poderia ser até pior, pois um número importante de colisões não entra nas estatísticas”. Segundo os dados analisados, 83% dos sinistros foram motivados pelo fator humano. Além das causas relacionadas direta ou indiretamente à situação clínica dos condutores (fadiga, stress, cansaço, déficit de atenção ou comprometimento do raciocínio), são comuns as fatalidades relacionadas à imprudência ou transgressão às leis de trânsito.
Os sinistros de trânsito são eventos não intencionais, evitáveis e causadores de lesões físicas e emocionais. E é possível atribuir 83% ao ‘fator humano’, 5% ao ‘fator veículo’, 10% ao ‘fator via’ e 2% ao ‘fator ambiente’. Dentre estes fatores causadores dos sinistros, o comportamento humano é o grande responsável, até porque, como a manutenção é responsabilidade do condutor, as falhas no veículo devem ser vinculadas também ao fator humano.