Fiat completou 100 anos na Argentina
Em 21 de maio de 1919, a Fiat se instalava na Argentina com a constituição da primeira sociedade naquele país da América do Sul: a F.I.A.T. Turin – Sucursal Argentina, localizada no bairro de Palermo, em Buenos Aires.
Cem anos depois, a Fiat Chrysler Automobiles celebrou a data com um jantar comemorativo na capital argentina, reunindo John Elkann e Mike Manley (respectivamente Chairman e CEO da FCA), e tendo como anfitriões Antonio Filosa (presidente da FCA Latam) e Cristiano Ratazzi, presidente da FCA Argentina. O evento também contou com a ilustre presença do presidente Mauricio Macri e de outras autoridades do governo argentino e da província de Córdoba, além do embaixador da Itália, Giussepe Manzo, e de personalidades do mundo empresarial, concessionários e fornecedores.
O local do evento para quase 400 convidados tinha também expostos veículos históricos e atuais da marca italiana, além do conceito Fastback, mostrado no último Salão do Automóvel de São Paulo. Os modelos serviram para ressaltar a evolução da indústria na Argentina, valendo destacar aqui o Victoria de 1903 e o 1500 Berlina de 1938.
Durante o jantar, foi anunciada ainda a nova versão do Cronos feito em Córdoba, chamada Centenario e limitada a apenas 100 unidades.
O COMEÇO – Pra quem não sabe, o senador Giovanni Agnelli foi o fundador da F.I.A.T. na Itália e também quem promoveu a instalação da Fiat na Argentina, com a ideia de projetar a marca além da Europa, abrindo caminho para que ela se tornasse uma referência na indústria automotiva.
Sair da Itália e se instalar na Argentina como primeiro destino de internacionalização não foi por acaso. Fora da Europa, a Argentina era uma das economias mais florescentes e desenvolvidas da América, com uma crescente classe média, um PIB invejável e uma grande capacidade de absorver e integrar contingentes de imigrantes que buscavam criar um novo futuro e participar da transformação cultural e social.
A expansão da Fiat na Argentina inicialmente se baseou na comercialização das últimas novidades feitas na Itália, particularmente na área de carros de passeio e veículos industriais, tratores e implementos para agronegócio e grandes motores diesel. Naquela época, os modelos da Fiat competiam com sucesso no automobilismo local.
Algumas décadas depois e passada a 2ª Guerra Mundial, começou um novo ciclo de desenvolvimento, baseado na industrialização da Fiat, com a abertura de fábricas, especialmente nas províncias de Córdoba, Buenos Aires e Santa Fé. De forma sucessiva, foram abertas as plantas da Fiat Someca Construcciones Córdoba (em 1954, para fabricar tratores), a de Grandes Motores Diesel (também em Ferreyra, Córdoba, para produzir motores de locomotivas, barcos, bombas de petróleo e geradores elétricos) e a da Materfer (para fabricar locomotivas e carros de passageiros para trens), além da inauguração de novas oficinas de assistência.
FIAT 600D – Nesse contexto e acompanhando a política governamental de desenvolvimento da indústria automotiva argentina, a Fiat construiu uma planta em Caseros, dedicada à produção de automóveis. E em abril de 1960 saiu das linhas de montagem o 600D, 1º automóvel da marca feito na Argentina e quase um sinônimo da motorização massiva dos hermanos.
Lá também se fabricou o modelo 1100, mas já em 1963 a produção de automóveis mudou para outro prédio muito maior em El Palomar.
Este ciclo de investimentos e expansão não terminou até a divisão da Fiat Concord em duas empresas, em 1979: Fiat Argentina (com foco no negócio de automóveis) e Fiat Diesel (reunindo as demais atividades).
O período de expansão, que incluiu a produção de caminhões, tratores e a abertura de novas lojas, terminou no fim dos anos 70. Uma vez divididas as unidades de negócio, a Fiat Argentina fez fusão com a Safrar Peugeot para formar a Sevel Argentina. Alguns anos antes, em Sauce Viejo, ela também concentrou a produção de caminhões e grandes motores.
A Fiat celebrou em 1976 as 250 mil unidades produzidas do 600. E também foi uma escola de formação e treinamento de profissionais e técnicos, chegando a ser o principal empregador privado do país. A esse ciclo de apogeu seguiu um período de recolha no controle e gestão das marcas da empresa. Numa conjuntura crítica para aquele país, a Fiat cedeu o controle da Sevel Argentina ao grupo Macri em 1982 que, até julho de 1996, como licenciada, se encarregou com êxito da produção e venda dos automóveis da marca, incorporando novos modelos, entre eles o Uno, o Duna, o 147 e outros, que permitiram uma consistente liderança. Também passaram aos grupos privados argentinos a Materfer y Grandes Motores Diesel, enquanto se constituiu a Iveco Argentina, que absorveu a divisão de caminhões e que, em 1991, passou a ser controlada pelo grupo Garfunkel.
RETOMADA – O processo de configuração do espaço regional do Mercosul, a política de atração de novos investimentos diretos, a estabilização da economia argentina e a caracterização da indústria automotiva como setor estratégico para os governos da Argentina e Brasil foram fatores determinantes para que a Fiat retomasse o controle de suas marcas, em meados dos anos 90. Em dezembro de 1996, foi construída uma nova planta no complexo industrial de Ferreyra (que custou mais de US$ 600 milhões), para a produção do Siena. Também nessa época, ela retomou o controle da Iveco e se relançou no agronegócio com a New Holland, que logo se tornou CNH, com a aquisição da Case.
No entanto, outra vez, as conjunturas críticas obrigaram a suspender as atividades da planta de Córdoba entre 2001 e 2008. Mas Sergio Marchionne, como CEO do Fiat Group e, posteriormente, da FCA, foi fundamental para o retorno da atividade na planta de Córdoba, assim como o grande responsável pela transformação do grupo globalmente. Ele assumiu a gestão da Fiat em 2004 – que na época perdia US$ 5 milhões por dia – e mudou o destino da empresa, conseguindo transformar o novo grupo (com a fusão com a Chrysler) num dos maiores gigantes do mundo.
Marchionne encarou com paixão e dedicação o surgimento da nova Fiat (que se consolidou com o lançamento do 500), assumiu a recuperação da Chrysler (com o acordo com o governo do presidente Obama, nos Estados Unidos) e esteve por trás da criação da CNH, do nascimento da FCA e da cisão da Ferrari. De um problemático conglomerado industrial italiano com um passado glorioso, a Fiat SpA se transformou em 3 sociedades independentes (CNH, FCA e Ferrari), cada uma concentrada em seu próprio negócio, com um grande futuro e escalas suficientes para ter foco nos desafios num mundo globalizado e em profunda transformação.
TRANSFORMAÇÃO – Já na última etapa da Fiat Argentina, entre os acontecimentos mais relevantes estão o relançamento do complexo industrial de Ferreyra, em 2008; o investimento na planta e preparação para produção do novo Palio, em 2012; e a modernização da fábrica de Córdoba, tanto em termos tecnológicos e de processos, como de formação e treinamento dos colaboradores. Tudo para produzir, com investimento de US$ 500 milhões, um carro de qualidade mundial: o Cronos.
A gestão de transformação da planta de Córdoba foi concomitante com a absorção das operações de Chrysler (com marcas como Chrysler, Dodge e Jeep que também são parte da rica história da indústria automotiva argentina), o que deu origem à FCA Automobiles Argentina. Protagonista do desenvolvimento industrial argentino desde o início, hoje, a Fiat na Argentina é um emblema da Fiat Chrysler Automobiles, uma casa de grandes marcas, determinada a ter um papel ativo e ambicioso no processo de consolidação do setor automotivo.
MODELOS – Nos primeiros 100 anos de história da Fiat na Argentina, ela produziu mais de uma dezena de modelos de automóveis que alcançaram êxito rapidamente. O primeiro modelo foi o Fiat 600, que teve 294.197 unidades produzidas em Caseros (Buenos Aires), de 1960 a 1982.
O segundo modelo foi o Fiat 1100, que teve 23.152 unidades produzidas em El Palomar, entre os anos de 1960 e 1963.
Depois vieram o 1500, o C, o cupê, o Familiar e o Multicarga, que tiveram 123.059 unidades produzidas em El Palomar, de 1963 a 1972.
Em seguida, os modelos 700, 800, Coupé e Spider, que tiveram 7.807 unidades produzidas em El Palomar, de 1965 a 1970.
Ainda em El Palomar, foram feitos os modelos 1600 e 1600 Sport (47.991 unidades produzidas de 1969 a 1973); o 128 (255.110 unidades produzidas de 1971 a 1990); os modelos 125, Sport, Multicarga e Mirafiori (188.971 unidades produzidas de 1972 a 1982); o 133 (15.821 unidades produzidas de 1977 a 1982); os modelos 147, Spazio, Brio e Vivace (232.807 unidades produzidas de 1981 a 1996); o Regatta (56.789 unidades produzidas de 1985 a 1992); e o Fiorino Furgon (25.035 unidades produzidas de 1989 a 1995).
Feito em El Palomar, Berazategui e Ferreyra (ambas em Córdoba), o Fiat Duna teve 257.559 unidades produzidas de 1987 a 2001. Em Córdoba também foi feito o Uno, que teve 179.767 unidades produzidas de 1988 a 2001. Já só a fábrica de Ferreyra, em Córdoba, produziu os seguintes modelos: Siena (550.373 unidades produzidas de 1997 a 2002 e de 2007 a 2016); Palio (153.988 unidades produzidas de 1997 a 2002 e de 2008 a 2016); novo Palio (222.924 unidades produzidas de 2011 a 2017); e Cronos (69.587 unidades produzidas de 2017 até maio de 2019).