Carros

Os 40 anos do primeiro Fiat 147 movido a etanol

Em 5 de julho de 1979, chegava às ruas brasileiras o 1º Fiat 147 movido a álcool, um modelo que entrou pra história, já que a marca Fiat foi pioneira no mundo na produção em série de motores movidos a esse combustível. Apelidado de “Cachacinha” por causa do odor característico exalado pelo escapamento, o 147 movido a etanol também simbolizou um marco pra engenharia automotiva brasileira, que a partir dali partiu em busca de tecnologias que tornassem os veículos mais eficientes e menos poluentes.

O melhor de tudo é que a primeira unidade do modelo 147 movido a álcool é de propriedade da Fiat (faz parte do acervo de clássicos da montadora italiana) e ainda funciona como se se tivesse acabado de sair da linha de produção, incluindo até partida a frio e afogador.

Mas, 40 anos atrás, ele foi adquirido pelo Ministério da Fazenda e foi para Brasília (DF), até voltar para a montadora e estar – milagrosamente! – quase original, sem nenhuma restauração. Tanto que ele ainda funciona perfeitamente e preserva a tampa vermelha do motor e a pintura da época –só há algumas batidinhas nas portas.

DESENVOLVIMENTO – A história do 147 a etanol remonta a 1976, quando as pesquisas e o desenvolvimento do motor movido ao combustível derivado da cana-de-açúcar iniciaram. Época do Pró-Álcool (programa do governo feito pra combater a crise do petróleo), 1976 também foi o ano em que o 147 a gasolina foi lançado no Brasil, tornando-se o 1º Fiat feito aqui.

Já no fim de 1976, no Salão do Automóvel de São Paulo, foi exposto um protótipo do 147 a etanol, que já tinha rodado dezenas de milhares de quilômetros e que foi ainda mais aperfeiçoado em 1977. Em 1978, a Fiat desenvolveu o motor 1.3 de 62 cavalos, que durante os testes acabou se mostrando mais adequado para o uso do álcool, em vez de gasolina. Logo depois, 3 unidades do 147 a etanol foram entregues ao Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER, para serem experimentados no policiamento da ponte Rio-Niterói. Em setembro do mesmo ano, um 147 100% movido a álcool realizou o que viria a ser o teste definitivo para criação do primeiro motor brasileiro desse tipo: ele fez uma viagem de 12 dias e 6.800 quilômetros pelo país, percorrendo mais de 500 quilômetros por dia, sendo 3 mil quilômetros por vias de terra e enfrentando variações climáticas de mais de 30 graus.

Em 1979, o 147 a etanol participou do Rallye Internacional do Brasil e, pilotado por duas mulheres (a brasileira Dulce Nilda Doege e a italiana Anna Cambiaghi), foi o carro brasileiro de melhor classificação nesse que foi o 1º grande rali internacional realizado no país: chegou em 4º lugar na classificação geral, após percorrer 2.200 quilômetros. Entre os diferenciais, a taxa de compressão era bastante elevada em relação ao motor a gasolina e a carburação passou a trabalhar com uma mistura ar-combustível bem mais rica, com maior percentual de combustível – e razão do seu consumo 30% maior. Para a prova, ele ficou com potência pouco maior que a do similar a gasolina (62 cavalos, contra 61 cavalos), devido à necessidade de conter o consumo. Por outro lado, a taxa de compressão mais alta favorecia o torque e as retomadas e acelerações em baixa ou média rotação. Mas o que realmente importava era o custo por quilômetro rodado: menos da metade da versão a gasolina, com os preços dos combustíveis na época. O interesse do consumidor pelo Fiat 147 movido a álcool é confirmado pelos números de vendas: de 1979 a 1987, teve 120.516 unidades vendidas.

APERFEIÇOAMENTOS – E esse motor nunca deixou de ser aperfeiçoado, a começar pela busca de uma maior robustez contra a oxidação detectada no início, já que o etanol era extremamente corrosivo. Mas a engenharia da Fiat encontrou a solução para proteger as peças: usou níquel químico, metal que cria uma camada de proteção nos componentes, inibindo as ações do etanol. Outra providência foi a instalação de um conjunto de escapamento aluminizado. O 147 também foi o primeiro a encarar algumas características do combustível, como o baixo poder calorífico, em relação à gasolina. Na prática, isso significava a lendária maior dificuldade para dar a partida em dias frios. Para resolver esse problema, a engenharia instalou um reservatório de partida a frio, sendo que um botão no painel acionava uma bombinha igual a do lavador do para-brisa e ela injetava no coletor de admissão uma quantidade de gasolina suficiente para dar a partida em baixa temperatura.

LEGADO – Na época do 147, o sistema de injeção de combustível era o carburador, que de início não tinha um tratamento tão eficaz para conter a corrosão do álcool. Então a Fiat passou a adotar materiais que protegessem o componente, mas ao mesmo tempo trabalhou para atingir outro nível tecnológico, que passaria pelo carburador duplo, até chegar à injeção eletrônica. E foi a tecnologia do carburador duplo que gerou mais um feito histórico pra marca italiana, ao gerar o carro 1.0 mais rápido e veloz do mundo, o Uno Mille Brio, no início dos anos 90.

Com o passar do tempo, a evolução do sistema de injeção melhorou a mistura ar-combustível nos motores, gerando ganhos significativos de desempenho e, ao mesmo tempo, de redução de consumo. E o etanol continua na lista de prioridades da marca, tanto que a FCA anunciou que está desenvolvendo um turbo com injeção direta e outras novidades que serão incorporadas a um futuro motor movido a esse combustível, em busca melhorar o desempenho em relação ao motor a gasolina.

Auto Destaque

O Caderno Auto Destaque é publicado ininterruptamente desde 1987 no jornal Diário do Pará, apresentando lançamentos e tudo mais sobre o mercado automotivo.

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