Automóvel: a “bolha” que nos isola
*Por Lícia Egger Moellwald, doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo e professora da Universidade Anhembi Morumbi, além de consultora na área de Treinamento Corporativo e de Relações Públicas
Bonito e do ano, velho ou todo batido, tanto faz! O carro serve como um refúgio e como um ‘escudo protetor’ quando saímos de casa com ele. Tem gente que age como se estivesse num karaokê, que aproveita a música do multimídia pra ensaiar mentalmente uns passinhos de dança. Tem aqueles que transformam o veículo em arquivo, armário e até depósito de mantimentos.
O carro é uma extensão do que existe de mais privado em nós. Agimos nele como se estivéssemos em nosso quarto e ninguém pudesse nos ver. Por isso tanta gente ‘limpa’ o nariz, tira cravo do rosto e faz coisas inimagináveis dentro dele. Lembra do Hugh Grant, aquele do filme “Quatro Casamentos e um Funeral”, que foi pego estacionado numa rua de Los Angeles em companhia duvidosa? Pois é, ele achou que estava num quarto de motel!
O veículo funciona como se estivéssemos dentro de uma bolha que nos isola do mundo, e nele nada pode nos atingir. Também é considerado um excelente lugar para romances proibidos, conversas sigilosas e trocas escusas. Tem gente que faz “das tripas, coração” e aposta todas as suas economias num automóvel bonito. Os homens, principalmente, fazem dele um símbolo sexual, numa associação com seus ‘dotes’.
Fazer sexo dentro de um carro, apesar de desconfortável, é considerado muito erótico. Mesmo sem estatísticas, é sabido que boa parte dos adultos já teve algum tipo de experiência sexual no veículo.
Nele, os agressivos se sentem como num tanque de guerra e estão sempre prontos para destruir tudo o que aparece pela frente. Já os mais tranquilos esquecem da vida, agindo como se fossem os donos da rua.
Quando estamos na nossa ‘bolha móvel’, esquecemos dos outros. Nos consideramos anônimos. Por isso muitos acreditam que podem tudo, até ser sem educação. Com o aumento do número de automóveis nas ruas, é importante que se entenda que ter um exige mais do que pagar IPVA, abastecer, não correr e procurar não levar multas. É preciso seguir regras que respeitem as outras pessoas, pedestres ou não.
Por isso, não feche ninguém, pois isso é agressividade barata. Antes de ter um acesso de raiva, respire e pense nas coisas boas que você tem na vida.
No trânsito, seja elegante e dê passagem. Você só vai perder uma fração de segundos do seu dia fazendo isso.
Se você perder a vaga do estacionamento para algum ‘espertinho’, fique calma, pois quem faz isso, faz coisa pior.
Não xingue ou faça gestos obscenos. Apesar de você estar na sua ‘bolha móvel’, pode estar se expondo a um revide violento.
Não saia do carro para bater boca, mesmo que alguém tenha batido no seu veículo. Se você tem seguro, ótimo. Caso contrário, tenha calma. Se a pessoa do outro automóvel estiver nervosa, fale com calma e escolha bem as palavras.
Não buzine à toa, pois sua impaciência pode incomodar muito as outras pessoas.
Mantenha sua ‘bolha móvel’ sempre limpa, pois você não sabe para quem pode ter que dar carona.
Por fim, se você estiver num congestionamento, não ouça noticiários, pois as notícias, em geral, são ruins e só servem para deixar a pessoa mais angustiada.