Nas cidades, eles já são uma febre. Motociclistas driblam o trânsito e disparam entre os automóveis. Eles gostam de ouvir o ronco de sua motocicleta, seja por prazer ou para ‘avisar’ pedestres e motoristas que ‘estão na área’.
Mas há quem exagere e então, as consequências podem ser mais sérias. Primeiro por causa das multas; segundo porque tiram o sossego e assustam motoristas e pedestres com suas acelerações repentinas; e terceiro porque essa tamanha elevação do ruído traz riscos à própria saúde auditiva desses proprietários de motocicletas.
Em 2020, com a chegada da pandemia chinesa, o número de motoboys circulando cresceu enormemente devido ao aumento nas entregas de refeições e de mercadorias. Isso acabou gerando um efeito colateral: cresceu o risco de perda auditiva entre esses profissionais, em decorrência do barulho contínuo da motocicleta em períodos ainda maiores do dia.
Pesquisa do National Institute on Deafness and Other Communication Disorders (Instituto Nacional de Surdez e Outras Doenças de Comunicação), feita nos Estados Unidos, comprovou que o ruído de motocicletas pode comprometer a saúde auditiva dos pilotos.
Especialistas são unânimes em afirmar que, dependendo do tempo de exposição, ruídos acima de 85 decibéis podem causar alterações na estrutura interna da orelha. Como efeito de comparação, uma conversação normal atinge 60 decibéis.
O problema se agrava porque é comum motociclistas alterarem o sistema de escapamento, utilizando ponteiras esportivas ou personalizadas, que elevam ainda mais o nível de ruído emitido pelas motocicletas. E muitos alegam que isso ajuda, porque chama a atenção de motoristas e pedestres desatentos.
Outra fonte de ruído perigosa para a audição é a buzina, que não deve ser utilizada de forma intermitente, como muitos fazem para abrir caminho no trânsito. E para piorar a situação, muitos utilizam fones de ouvido para ouvir música em volume alto, enquanto pilotam. Tudo isso junto pode causar danos ainda mais graves à audição.
PERDA GRADUAL – A fonoaudióloga Rafaella Cardoso, da Telex Soluções Auditivas, chama a atenção para alguns riscos: “A exposição frequente a níveis sonoros elevados pode causar danos à audição. A perda é gradual e progressiva. Mas não é perceptível num primeiro momento. Vai-se perdendo a audição conforme a maior intensidade de ruído e de tempo de exposição ao longo dos anos. Isso depende também até de outros fatores, entre eles predisposição genética”.
Doutora em Engenharia de Produção, Juliana de Conto também comprovou o problema em estudo realizado na Universidade Federal de Santa Catarina, que avaliou a exposição ao ruído de 17 mototaxistas de Balneário Camboriú (SC) e mostrou que eles estão expostos a um nível de pressão sonora superior a 82,1 decibéis, com dose de ruído acima do permitido para o tempo de trabalho – 12 horas diárias. Dos mototaxistas estudados, oito apresentaram limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade, enquanto que nove apresentaram alteração dos limiares tonais.
É importante lembrar que uma motocicleta barulhenta gera multa de trânsito, além de retenção do veículo. Pelo Código de Trânsito Brasileiro, todos os veículos devem manter as suas características originais. E embora exista pouca fiscalização em muitas cidades, policiais e agentes municipais já vêm autuando motociclistas por causa do escapamentos irregulares.
Por tudo isso, é importante que o motociclista tome consciência desses riscos e se cuide, a começar pelo zelo na manutenção da sua motocicleta, que faz menor barulho quando bem cuidada. Também é preciso observar vibrações, regulagens, descarga, amortecedores e suspensões. Afinal, se a motocicleta é, muitas vezes, instrumento de trabalho, a saúde auditiva também é fundamental para garantir o emprego por muitos e muitos anos.